quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

JJ Silva


Prólogo
Joaquim era um menino pobre, de uma cidade violenta. Recebera esse nome para ficar homônimo do mártir da independência de seu país. Joaquim José da Silva Xavier era seu nome. Por alguma razão completamente desconhecida cresceu apaixonado por cinema. Seu maior ídolo era William Friedkin. Não por “Operação França”, mas sim por “O exorcista”. Fascinava ao menino, a menina de sua idade possuída pelo demônio e enquanto Regan revirava os olhos, seus olhos brilhavam diante da tela.
Cresceu obcecado pela idéia de melhorar de vida, se possível aliando seus maiores sonhos: cinema e exorcismo. Sim, influenciado pelo filme de sua infância tornou-se pastor evangélico e especializou-se em retirar o mal de dentro das pessoas. Não importava o método. Nem a câmera que usava. Sim, criou um negócio muito rentável: vendia as fitas de seus exorcismos a camelôs, que as revendiam e todos saíam ganhando. Sem pagar impostos, sem empregar ninguém (os empregadores eram seus seguidores), sem se importar com as vítimas e suas famílias, que estavam fragilizadas demais para impedir as filmagens.
Com o volume enorme de pedidos por mais filmes e mais exorcismos, JJ Silva, como fez questão de ser conhecido, montou um império financeiro e com isso pode atingir seus maiores sonhos. Era o mais famoso exorcista do Brasil e o mais bem sucedido diretor de cinema, economicamente falando. Foi quando se deparou com seu maior desafio. E que lhe custaria tudo.



A chuva inundava parte da entrada do Morro do Urubu, restando apenas a entrada pela Rua Silva Xavier. Coincidência ou não, talvez aquele fosse um bom sinal para a ação que iria fazer naquele lugar. Ação era como JJ chamava seus exorcismos. Talvez para não assustar quem não o conhecesse. Mas ainda havia alguém que não o conhecesse? Talvez não, especialmente após seu último vídeo, sucesso absoluto no youtube. O mais bizarro, é que a pirataria apenas fazia aumentar a venda dos seus DVDs caseiros. De qualquer maneira, JJ não gostava de voltar ao lugar de sua origem, mas pensou que se esta ação lhe rendesse um bom vídeo, valeria à pena. E entrar na favela pela rua que tinha seu nome, lhe fez pensar que isto era um bom sinal.
Seu jipe seguia subindo o morro, ganhando altura e distância do asfalto. As leis, regras e códigos de conduta mudavam à medida que o Land Rover avançava em direção à casa 6, da alameda 11. Faltando cem metros para chegarem ao destino, foram parados por cinco homens armados de fuzis e metralhadoras. JJ já se acostumara com visitas a lugares controlados por traficantes e milícias e nunca ia desprevenido ou desprovido de uma autorização do dono do lugar. Se possível, por escrito. Aquele que parecia o chefe do grupo abordou os quatro homens dentro do Land Rover de maneira bastante educada e sutil:
- Vai prá onde, porra? Que que tu qué aqui no morro o filhodaputa?
- Somos a equipe do pastor JJ Silva, e viemos curar uma menina na casa 6, alameda 11.
- Porra, daquele DVD do demônio? Caralho maluco, sabia que a Natália ‘tava fudida assim não. Ela é parceira da galera toda aqui. Mó mina namoral! Me bota na parada também porra. Quero ficá famosão!
- Infelizmente não é possível. Eu já tenho tudo certo com o Linho e ele me deu permissão para irmos até a casa. Estamos atrasados.
- Pô pastor, foi mal aí. Pode ir na boa, Deus abençoe. Mas tem que deixar o carro aqui. Fica sussa que tá na minha.
Os últimos cem metros foram percorridos à pé. JJ amaldiçoou sua mulher que tinha separados sapatos italianos para a ação de hoje: “Você fica muito bem no vídeo com eles”, ela disse. Realmente ficaria bem se eles chegassem inteiros ao barraco.
A casa, se é pode ser chamada assim, estava um caos total. Totalmente revirada, todas as roupas jogadas pela sala e pelo quarto, os móveis no chão e velas acesas punham em risco a segurança de todos. Uma mulata gorda, com o cabelo muito branco e cega do olho direito, rezava ao lado da cama onde Natália se deitava. A luz do Sol não entrava na casa e o cheiro de mofo era misturado ao de urina, provavelmente por causa de uma privada entupida. A falta de luz solar (era um dia chuvoso) e as condições precárias de trabalho irritaram JJ Silva, que temeu pela qualidade de seu vídeo. Chegou a pensar em desistir, mas a menina era sobrinha de Linho, chefe do morro. Achou melhor prosseguir, mesmo em condições ruins. Havia feito um trato com Linho: salvação da menina, vídeo divulgado e vendido. O trato foi aceito sem concessões.
JJ olhou a mulata cega com desdém e pediu que ela se retirasse. Ao tocar o braço da velha para acompanhá-la até a porta, Natália avançou com rapidez e lhe desferiu um violento tapa com o dorso da mão esquerda. A força parecia desproporcional para uma menina de 13 anos e JJ, que nunca havia sido tocado por um cliente, sentiu algo diferente. O ar parecia mais pesado que o normal, o cheiro de urina e mofo misturados quase o sufocava e sua visão ficara turva após o tapa. A mulata sussurrou algo em seu ouvido e JJ deu de ombros. Tentou se recompor e pediu que seu ajudantes montassem a parafernália para gravação da ação. Foi prontamente atendido.
- Daniel, desse lado não. Você sabe que meu melhor perfil é desse lado. Vocês realmente precisam de aulas de fotografia, enquadramento e corte de cenas. Semana passada o João quase me fez vomitar. Parecia “A Bruxa de Blair”.
Um riso tenso ecoou na sala. Era Jonas, o motorista. Jonas era o único que não era evangélico, mas já trabalhavam juntos há vinte anos. Ou seja, desde o início. Jonas era amigo de infância de JJ, e apesar dos arroubos e das humilhações de seu amigo, estava sempre presente. Mesmo nos piores momentos. O riso tenso e o ceticismo eram sua marca registrada.
Após vinte minutos de preparação técnica, JJ conseguiu se recompor e começar a ação. As câmeras foram ligadas, uma luz artificial também. A mulata, agora do lado de fora da sala, continuava rezando, cada vez mais alto, e numa língua que ninguém entendia. Ao se virar para a mulher pedindo silêncio, JJ foi surpreendido mais uma vez com a interrupção de Natália:
- Cala a boca você, viadinho engomado do caralho. Vai se fuder e sai daqui agora, seu merda!
JJ se voltou aos assistentes e falou:
-Liguem tudo agora. Vou começar.
JJ começou a orar. A oração continha palavras de ordem contra Satanás, louvações a Deus e de certa forma parecia como um hino de vitória. Ca(o)ntada antes do tempo. A mulata seguia suas rezas, num canto, cada vez mais alto, pois não havia se intimidado com o pedido de silêncio de JJ. Aliado a essas duas músicas, ao fundo podia se ouvir o funk proibidão da casa vizinha. Sem dúvidas o cenário era aterrador: em qualquer dos quatro sentidos, você se sentiria oprimido. Seja pela visão de uma menina transfigurada em monstro e pela casa em estado caótico, seja pelo cheiro de urina e mofo, seja pela música dissonante resultada da mistura de cântico evangélico, funk proibido e oração inteligível. A opressão do tato era dada pelo clima da casa: quente, apesar da chuva e pesado.
Infelizmente um filme não consegue captar toda essa miríade de sensações, e JJ também não era um diretor tão talentoso assim. A câmera o pegava no ângulo adequado, o som estava ajustado. Começara o show!
- Sai desse corpo, Íncubo maldito! Eu te comando para fora desta menina, Natália, a serva de Deus! Em nome do senhor Jesus!
- Não saio, ela pertence a mim e nada, nem ninguém vai tirá-la de mim. Eu sou invencível!
- Eu sou o representante de Deus, aquele que já te derrotou tantas vezes, eu já te derrotei tantas vezes. Eu é que nunca fui batido, nem por você, nem por ninguém! Eu sou o instrumento de Deus e pelas minhas mãos ele vai te mandar de volta, coisa ruim.
- Esse vídeo será sua ruína, Joaquim. – Natália disse com uma voz pesada, lúgubre. Sua face se ficou encrespada e a impressão é a que ela crescera alguns centímetros. Minutos após menina parecia tranqüila e serena, não passava mais a impressão de demoníaca de antes. Na verdade neste momento, a mulata parara de rezar e tinha vindo ao seu lado e falara-lhe algo ao pé do ouvido.
JJ respondeu às palavras da menina com um violento soco em seu nariz, fazendo o sangue espirrar e a mulata se afastar. A menina continuara serena e plácida. Ao que JJ analisou como um insulto do maldito Íncubo e investiu de novo sobre ela. Dessa vez, Natália tentou se defender, mas não foi capaz de desviar do soco em sua barriga, na altura do plexo celíaco. E levou outro soco na altura da mandíbula. Ao ver a menina ter muitas dificuldades de respirar, Jonas e Daniel se assustaram. Nunca tinham visto JJ ser violento desta maneira. Sempre houve socos, chutes, submissão física. Está nos manuais de exorcismo. Mas nunca com tanta violência em tão pouco tempo.
JJ, que parecia fora de si, continuou a espancar a menina, esquecendo da ação propriamente dita. A mulata continuava a rezar, desta vez em direção a JJ. Parecia até dizer Joaquim algumas vezes. Percebendo seu descontrole, Jonas tentou desligar a câmera e acalmar o amigo. JJ o repreendeu veementemente dizendo que este seria seu melhor vídeo até hoje. E continuou o espancamento. Sob os olhares cúmplices de João, Daniel, Jonas e da mulata, que a esta altura se encolhera num canto e via o espetáculo grotesco crescer a olhos vistos. Sem nunca parar de rezar. Natália já parecia desacordada e JJ ainda estava descontrolado. Batia na menina enquanto proferia palavras de baixo calão em direção a ela e à mulata. Sem nunca deixar o nome de Deus de fora.
Após 45 minutos de espancamento e hinos religiosos entoados à exaustão, JJ se deu por satisfeito. Tinha sua obra prima.
Natália respirava com dificuldades e o sangue lhe escorria pelo ouvido e pelo nariz, enquanto JJ falava com a família da menina e ia em direção ao seu Land Rover. Linho tinha ido ao Morro, mas não conseguira ir até a casa do irmão, mas tinha deixado um agradecimento ao grande pastor JJ Silva e a certeza de apoio da comunidade nas eleições do próximo ano.
Ao entrar no carro, JJ parecia satisfeito com sua ação do dia. Mal vira a mulata o fuzilar com o olhar.



Epílogo
Nair chegou ao IML no mesmo horário de sempre e não ficou muito surpresa quando viu o corpo de uma menina de 13 anos em sua mesa. É muito comum jovens morrerem numa cidade violenta como o Rio de Janeiro. Mesmo de espancamento. Por isso, Nair não ficou surpresa ao ler o prontuário. Ficou surpresa ao levantar o lençol. Melhor dizendo, ficou intrigada com alguns nódulos no corpo da menina. Lembrou-se dos tempos da clínica médica e pensou: “Gomas sifilíticas”. Ficou intrigada. Pediu um exame do nódulo e não ficou surpresa. Natália tinha Sífilis terciária, uma fase avançada da doença. De qualquer maneira, era muito estranho que uma criança de 13 anos tivesse uma fase tão avançada da doença. Nair nunca saberia a resposta a esta pergunta. Só sabia que esta doença causa transtornos de comportamento. O nome do seu Íncubo era Treponema Pallidum. Sífilis tem tratamento e quando tratada em suas fases iniciais tem cura, e o tratamento é ministrado de graça nos postos de saúde da cidade do Rio de Janeiro.
Dez dias após, um inexperiente jornalista recém contratado por prestigioso jornal da cidade, ao ir ao IML para fazer a cobertura de sempre, viu o relatório sobre a mesa de Nair, que era sua fonte. Ficou intrigado com a história de uma menina de 13 anos ter morrido espancada, aparentemente sem motivo algum e ao mesmo tempo ter sífilis terciária, como estava no relatório, acompanhado de gigantesco ponto de interrogação. Fábio era seu nome, e Fábio era fã dos vídeos de JJ. Logo a reconheceu e ligou os pontos. O maior sucesso do agora Bispo JJ Silva, era na verdade uma prova de assassinato.
Em novembro daquele ano, Fábio ganhou o prêmio ESSO de repórter investigativo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mrs Wheat

Eu começaria esta história em inglês, se eu fosse como a mãe de Graham, personagem de James Spader em “Sexo, mentiras e videotape”. Na verdade, eu sou anglófilo como a mãe dele sim. Logo, a história começa assim:
- One beer, please. – Said Regina, trying to reach the young man behind the counter in a small club.
- Make it two! One for me, the other for the lady. Don’t worry, this one is on me. – Bruce replied, trying to look nice and heading for the porch.
Regina agradeceu e sorriu para o rapaz. Bruce a convidou para irem à varanda e puxou uma conversa boba. Small talk only.
- Qual seu nome? – Pergunta vinda direto do Mobral das cantadas.
- Regina, e o seu?
- Bruce, prazer.
- Legal seu nome. Inglês, né? – Regina sabia bem conduzir um small talk.
- É. Minha mãe é anglófila...
- Essa frase não me é estranha... Você gosta de cinema?
- Essa frase é de “Sexo, mentiras e videotape”. Adoro Steven Sorderbergh. – Bruce se sentiu tendo total domínio da situação nesse momento. Ficou completamente confiante, a conversa saiu do small talk e entrou em sua seara. Dominava cinema, ou pelo menos achava, e certamente aquela garota ficaria encantada com seus conhecimentos cinematográficos.
- Nossa, eu também! Você sabia que o David Dochovny fez um teste pro papel do Graham? Ah!, e eu adoro a Laura San Giacomo.
Bruce empalideceu. Não se lembrava de mais nenhum filme da Laura San Giacomo, nem fazia idéia que David Duchovny tinha feito teste para ser Graham. Aliás, seria uma mistura bem interessante sua canastrice com a do personagem...
Bruce tentou disfaçar, mas era tarde. A sensação inicial que teve, de que tinha a situação sob controle, desaparecera. Regina rapidamente se transformara num grande enigma a ser desvendado, um cavalo selvagem a ser domesticado.
- Nossa, eu adoro a fotografia de “Traffic”, os tons de amarelo e azul... – Bruce ouvia e calava. A verdade é que ele sabia um pouco de cinema e até conseguia impressionar algumas garotas da sua idade. Mas Regina era diferente. Ela realmente parecia um pouco mais velha e realmente sabia do que estava falando.
- Poxa, tem o “Solaris” também, mas eu prefiro o original... – A cada filme, um soco no estômago. Bruce tinha visto “Solaris”, mas tinha achado chato.
Em dado momento, suas cervejas acabaram. Bruce fora salvo pelo gongo. Ao sair para buscar mais, disse:
- Por favor, não vá embora.
Soou bem estranho. Regina o olhou desconfiada, mas Bruce se saiu bem:
- Porque agora você vai me dever duas cervejas!
O caminho entre a varanda e o bar era relativamente curto. O lugar não estava cheio, mas o bar estava quase inacessível. Por isso, Bruce ganhou preciosos minutos para pensar. Por alguma razão ele queria continuar a conversar com aquela menina (talvez mais adequado fosse chamá-la de mulher). Mas a razão nunca ficou muito clara. Talvez fosse o desafio de uma mulher mais velha e bem versada em assuntos que ele pouco conhecia, mas que apreciava muito. Também não dava para negar: ela era bonita.
- Você demorou um pouco, quase deixei umas moedinhas aqui pra te pagar.
Regina parecia muito confortável com a situação. Ela se sentia tranqüila ao lado daquele cara, que parecia tão assustado a cada informação cinematográfica nova. Mas aquilo lhe dava um ar de pureza e ingenuidade que Regina não estava mais acostumada a ver nos homens. Também não dava para negar: ele era bonito.
- Querida, eu quase tive que dar minha vida pra pegar essas latinhas. Por favor, já que você tá me sacaneando... SHOW ME THE MONEY!
- Rá! Eu ADORO Cameron Crowe!!! Ai… “Quase famosos”…
- Mas essa frase é do “Jerry McGuire”!
- Ah!, é verdade... Que furo! – Regina, notando a insegurança de Bruce, foi generosa e cometeu um erro deliberado.
- Comeron Crowe é o diretor que mais gosto. É incrível como um cara escreveu uma história foda sobre sua própria vida e ainda ganhou um Oscar por isso. Sem contar que ele escreve e dirige, ainda escolhe a trilha sonora...
Regina viu o brilho no olhar de Bruce e se encantou. O rapaz começou a falar com uma eloqüência e conhecimento incomuns para homens da sua idade. Tá certo que ele não sabia muito sobre cinema, mas era um entusiasta da sétima arte. Não tinha o cinismo nem os pudores dos homens de sua idade. E claramente estava tentando a impressionar. “Que fofo!” pensou.
Algumas outras palavras foram ditas sobre Cameron Crowe, mas o papo esquentou mais quando falaram de Oscar.
- A maior injustiça do Oscar de 98 foi “O Resgate do Soldado Ryan” não ter ganhado. Ganhou aquela porcaria de “Shakespeare apaixonado”. – Bruce disse uma de suas muitas frases de efeito e inflamadas.
- Você não sabe o que está dizendo! “Shakespeare apaixonado” tem um roteiro super bem amarrado, tem um figurino incrível e a história é sensacional. Eu sou fã do Tom Stoppard. – Regina retrucou.
- Mas tem o Ben Affleck!!! Nenhum filme com ele pode ser bom...
- E “O resgate...” tem o Matt Damon. No papel título. O Ben Affleck só faz uma ponta no “Shakespeare...”.
- Você tem razão: Game, Set, Match.
- Não acredito que você gosta de tênis! – Regina agora parecia surpresa.
- Gosto muito. Sou fã do Guga, mas o CARA pra mim era o McEnroe.
-Que isso menino, você nem o viu jogar!
- Quanto preconceito... Peguei seu fim de carreira, mas foi o único cara canhoto como eu que eu vi ganhando alguma coisa.
- O Senna era canhoto.
- Você gosta de formula 1? – O surpreso agora era Bruce.
- Já gostei mais, mas meu negócio mesmo é futebol!
- Ah! Para! Só falta dizer que é Botafoguense...
- De certa maneira sim. Minha família é de Turim, na Itália. E lá torço pela Juventus, que inspirou esse belo uniforme que seu time tem. Mas na verdade sou Palmeirense. Só que o Botafogo é meu segundo time por causa da Juve.
Numa boa, isso é coisa de menino! Nenhuma mulher tem um time em São Paulo, na Itália e no Rio de Janeiro. Mulher quando gosta muito, muito, muito de futebol tem um time só. Bruce viu o quanto Regina era diferente.
Ao longo da conversa, Bruce soube de mais alguns detalhes: Regina morava em São Paulo, estava no Rio visitando amigos e voltaria na manhã seguinte. Era fotógrafa e tinha terminado um namoro longo havia um ano. Nunca havia sido casada. Acabou descobrindo sua idade também: 35. Bruce tinha 23.
Mais algumas cervejas e o show estava prestes a começar. Bruce estava ali para ver um amigo tocar e Regina para passar o tempo. E já que não ia fazer nada naquela noite, quem sabe tirar umas fotos de um show underground? Só que o show começou, acabou, começou outro show, acabou outro show e Bruce e Regina ainda conversavam animadamente. E não pareciam arrependidos, descobrindo um ao outro e se encantando um com outro.
Os shows acabaram, a noite também. Com o dia, veio a realidade: teriam que se despedir. O ônibus de Regina partia em uma hora e Bruce tinha prova na faculdade na segunda-feira. Bruce decidiu levá-la na rodoviária, que era perto de onde estavam. Mas foi bastante torturante. A possibilidade de não mais vê-la, de não ter mais uma conversa e tamanha sintonia com alguém, lhe fez deixar cair lágrimas ao ver o ônibus sair. Regina, claramente emocionada também, acenou. E fechou a cortina da janela. Após terem conversado tanto e se descoberto tanto, se esqueceram de ficar com qualquer coisa que pudesse mantê-los em contato: telefone, e-mail, endereço... Ao perceber isso, Bruce ainda esboçou correr atrás do ônibus, mas era tarde. Acabou não vendo que Regina também fazia o mesmo, mas também desistiu. Nessa hora, ambos desejaram que não tivessem gostado tanto um do outro.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sem piedade
O frio cortava meu corpo sem piedade. O vento batia em minha face, entrava pelas aberturas da roupa, invadia meu ser e a impressão que eu tinha, era a de que cada lágrima fosse congelar ao sair dos meus olhos. Sem piedade. Assim a vida agiu na manhã anterior, tal qual o frio, com este cansado corpo.
Moro na chamada Fronteira da Paz, Santana do Livramento/Rivera, no sul do Brasil. Num rancho herdado por mim após uma longa batalha contra meus dois meio-irmãos. Durante trinta anos, fui vinicultor. Hoje, me sobra pouco a fazer, após a chegada da Almadén. Meu grande legado é a sede do rancho, minha casa.
A sede se situa exatamente numa área chamada de fronteira seca. Metade no Uruguai, metade no Brasil. A linha imaginária fronteiriça corta a casa ao meio, deixando uma parte da casa no Uruguai e outra no Brasil. O mais interessante é que a construção, que data de 1917, não foi programada para estar na fronteira. Aliás, só descobrimos isso após o Google Earth. Meu neto Evandro, menino de muitas qualidades, nos deu essa surpresa. Ao sabermos dessa peculiaridade, passamos a explorá-la e mudamos a disposição de nossos cômodos, de maneira a deixar nossa cama metade no Uruguai, metade no Brasil. Só por diversão. Léa adorava esses jogos.
O inverno este ano tem sido bastante rigoroso, mesmo para nossos padrões. A colheita foi das piores de todos os tempos por causa das geadas constantes. Muito dinheiro foi perdido, muita gente ficou com fome, muitos meninos continuaram virgens sem a ajuda do álcool, muitas vidas se perderam. O frio pode fazer isso tudo. O frio pode destruir tudo. Inclusive a sanidade de uma pessoa comum. Como eu. Como Léa.
Léa acordou um pouco mais tarde naquela manhã de julho. Sabendo que tinha ficado toda ensopada por causa da febre e que isso tinha impedido de dormir bem e se concentrar nos afazeres da casa, Léa se irritou. Imagine o frio! As noites vinham sendo essa rotina de sentir calor, ficar suada, sentir frio, trocar de roupa, sentir calor, ficar suada, sentir frio, trocar de roupa... Ninguém pode ser feliz assim. Ninguém fica são assim. Quatro dias estava Léa sem dormir e sem conseguir se alimentar. Ao tentar ajudar, percebi que seu lado, o lado uruguaio da cama, estava totalmente encharcado e recomendei que fôssemos ao médico naquela manhã mesmo. Mas Evandro vinha passar uma semana conosco e teríamos que buscá-lo na cidade. Ficaria para o dia seguinte.
Ao longo daquele dia, Léa se sentiu mais prostrada e nem foi ao encontro de nosso neto. Nem viu que ele trouxera um desses computadores que estão na moda agora, bem fininhos, que dá pra carregar na mochila. Presente do neto pródigo aos velhos avôs, moradores da fronteira.
Quando chegamos em casa, encontramos Léa sem vida no chão da cozinha, com a porta da geladeira aberta. Um filete de sangue já coagulado escorria pela sua boca e uma garrafa de água jazia espatifada no chão. Léa estava urinada e evacuada. A visão que esta velha retina nunca gostaria de ter visto. Ralph, nosso cachorro, a lambia sofregamente, tentando em vão reanimar sua, um dia, tão alegre dona.
Após trinta e sete anos de companhia, eu estava só de novo. Léa morrera de maneira totalmente inesperada. O médico que constatou sua morte era amigo de Evandro e me medicou após uma crise hipertensiva naquele dia. A noite se aproximava e a agonia da solidão e o frio só cresciam. Sentia cada parte do meu corpo petrificada de medo, frio, angústia e desespero. Ainda assim, me dispus a tentar dormir uma última vez em nossa cama. Um tributo a ser pago por tantos anos de convivência, carinho e dedicação. Na mesma hora de sempre, me deitei. Não havia edredom, cobertor ou aquecedor interno que fizesse o frio daquela noite passar. Eu só queria dormir e esquecer o que acontecera e torcer pra que quando acordasse tudo não passasse de um sonho. Pesadelo.
É impressionante o poder da autossugestão.
No meio da noite, senti o maior frio de minha vida. É como se a Antártida estivesse debaixo de meus cobertores. Me senti perdido. Ao tentar pagar meu tributo ao meu grande amor, tive um sono muito perturbado, e eu, que me mantinha minhas verdades, convicções e inclusive posições (fossem elas quais fossem, mesmo na cama) intactas, acabei mudando de posição durante a noite. Acordei do lado uruguaio, o lado de Léa, totalmente perdido, com frio, sem saber se o que eu vivia era verdade ou sonho. Sem saber como poderia eu estar com tanto frio, tão molhado e nu. Nunca havia soltado um grito tão estridente e tão aterrador. Senti medo. Medo da vida sem Léa. Medo de sentir esse frio para sempre. O frio de quem rola na cama e se vê sem cobertas na noite mais fria do ano, no lugar mais frio conhecido. O frio da solidão eterna.
Os dias se passaram, nossos filhos chegaram para o enterro. Todos menos Cláudio, pai de Evandro, que não conseguiu vôo de São Paulo a Porto Alegre. O apoio da família e dos amigos, as lembranças e andar para frente, ajudam a suportar a dor. E como tudo na vida, um dia a dor passou.
Com a ajuda de Cláudio e Evandro, vendi o rancho. Que virou atração turística da cidade, graças ao Google Earth. Sei meses após fui morar com eles numa cidade menos fria. Mas o inverno ainda me traz medo. E saudade... Acrescentando ao poeta, saudade não é só arrumar o quarto do filho que morreu. Saudade é dormir e não saber onde se está ao acordar, tamanho o desespero e a impotência, mesmo só tendo trocado de lado na cama. Foi o que senti naquele dia ao acordar e gritar. Saudade. Sem piedade.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O abraço

O quarto ainda refletia a luz do por do sol, enquanto as sombras cresciam em direção à porta da frente. A louça empilhada na pia da cozinha dava a medida da correria da vida atual. 14, 16, até 18 horas trabalhando por dia. Tudo calculado. A desculpa era sempre a mesma: "Vivo uma fase de afirmação profissional", e com isso momentos preciosos passavam à sua frente sem que pudesse vivê-los. Aquele sábado foi o primeiro dia em que não trabalhou em 47 dias. Acabara de quebrar seu recorde.
Invariavelmente comia mal. Dormia pior ainda. Suas olheiras falavam por si só. E dificilmente conseguia encontrar os amigos com tranqüilidade. Sua rotina era uma só: casa-hospital-filho-casa. Muito tempo em hospitais - casas brancas, assépticas, templos da prevalência financeira sobre o homem – pouco tempo no resto. E era assim que a outra parte da rotina se parecia a ele: resto.
Após meses de depressão, uma separação traumática e a indiferença do filho de 1 ano, optou por mergulhar no trabalho como uma maneira de se compensar pelas culpas que ainda possuía. Quanto mais dinheiro, mais poderia dar àqueles que tanto magoou. Parece simplista, mas, se dinheiro não compra felicidade, compra paz de espírito. Pelo menos por alguns instantes. E isso lhe bastava: alguns momentos de paz, tranqüilidade.
Não era feliz, apenas se bastava.
Mal sabia que algumas horas após aquele por do sol sua vida mudaria para sempre. Apesar destas horas terem sido um grande resumo de tudo que acontecera nos últimos meses, talvez para que ficasse muito claro que estava tudo errado. O pontapé inicial da mudança tinha sido dado dois dias antes, na quinta, no corredor de um dos hospitais freqüentados por ele.
Um convite. Aceito.
Claramente este tinha sido um golpe de sorte. Todas as conjunções o favoreceram. E assim foi. E tudo deu certo.
A noite de domingo mal caíra e o luar estava pálido, quando se encontraram fora do hospital pela primeira vez. Sentia-se vivo, com o coração batendo velozmente em seu mediastino. Sentia o sangue percorrer suas artérias, que pulsavam e davam ritmo aquele frenesi fisiológico. O caminho do carro até o encontro dela foi longo, apesar de ter durado alguns segundos. Tudo passava em sua cabeça, desde o que dizer até como se comportar. E o abraço que se seguiu a essa pequena caminhada dirimiu as dúvidas e quebrou a casca do homem angustiado e sem expectativas. Naquele momento ganhara sua vida de volta. Um abraço, uma certeza.
Nunca mais foi o mesmo...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Fazia muito calor, mesmo no inverno de mil novecentos e noventa e quatro. O dia era catorze de julho. Eram sete e quarenta e cinco da noite, mesmo assim fazia calor. Quinta-feira. Eu andava tranquilamente pelas ruas do meu bairro, voltando para casa depois do curso de inglês, quando minha vida sofreu uma reviravolta inimaginada. Eu tinha acabado de fazer dezesseis anos.
Tudo parecia calmo, as ruas do Méier totalmente desertas me davam a impressão de que nada aconteceria até eu chegar em casa. Um carro saía da garagem, o portão se abria e sua sirene momentaneamente me tirou do transe que a língua inglesa causava, e ainda causa, em mim. Ao parar para dar passagem ao carro, saía pelo portão da garagem uma menina aparentemente da minha idade. Nunca a tinha visto nas matinèes do Imperator, nas piscinas do Mackenzie, no Pizza Vip ou nas reuniões de pichadores em frente ao McDonald’s. Tampouco nas festas de halloween da Cultura Inglesa ou nos jogos do ADN no Intercolegial. Uma total desconhecida para mim. E naqueles três segundos ela se tornou a pessoa mais importante da minha vida.
Ela deslizava por entre a porta semi-aberta do carro e o portão ainda abrindo. Sua graça era incomparável, seus cabelos refletiam o amarelo da sirene do portão, sua pele morena estava tão brilhante com o suor, que fazia a noite, já caída, parecer dia claro. Por um momento fitei seus olhos, de um azul profundo. Não mais que um segundo. Tais olhos que nunca conseguirei esquecer. E surpreendentemente, o olhar que recebi de volta foi o de aprovação. Seu corpo todo irradiava sensualidade, sem vulgaridade. Suas pernas dançavam em direção à rua e sua quase escuridão. Sem nenhuma razão aparente, o olhar trouxe um sorriso sem igual. Sua boca era a mais linda que já vira. Nunca tinha estado diante de tamanha presença. E tamanha presença claramente gostou também da minha. Senti meu coração disparar, a boca secar e os pelos eriçar. Estava diante de uma deusa.
Mas hesitei e a bela morena foi embora. Deixando-me sem saber o porquê de minha hesitação, o que acabou por me trazer de volta ao mundo real. Ao meu mundo. E naqueles três segundos me fez mergulhar de vez nas questões mais profundas da minha vida. Por que não me interessei, ainda mais diante de tamanha beleza? Por que não agi e fiquei paralisado? Isso nunca acontecera antes. O que estava sentindo naquele momento? Timidez? Não, eu não era um rapaz tímido. Insegurança? Não, eu não tinha problemas de auto-estima. Medo de receber um sonoro “Não!”? Sim, eu me dava muito bem com as meninas. Naturalmente não era uma coisa que me assustasse ou inibisse. E já tinha agido em situações mais bizarras. Mas algo me paralisou naquele momento. Passei anos sem saber o porquê.

Hoje tudo é muito claro. Na verdade, minhas respostas vieram antes que as perguntas pudessem me fazer mal. Dezesseis anos depois, vejo que a beleza incomparável daquela menina trouxe em mim um desejo de ser como ela. E cada vez que me arrumo, pinto meu cabelo ou coloco minhas lentes, é nela que me inspiro.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009


Minha vida de anestesista


O dia de hoje começou no de ontem. E terminará no de amanhã.
Às 21h30 ainda estou no hospital examinando e conversando com meus pacientes do dia seguinte: Celina, uma mulher de 35 anos, três filhos, o mais novo de um ano, tem câncer no estômago e Antônia, de 67 anos, tem uma hérnia incisional. As duas têm muitas dúvidas com relação à cirurgia e, principalmente, à anestesia, minha área. Converso com elas separadamente, mas não da maneira como deveria. Apesar de ser uma conversa rápida, as dúvidas são sanadas. Confiro os exames e as prescrições e, agora sim, posso ir. Em direção ao dia de hoje. Que começou ontem.
Às 6h40 estou a caminho. Por sorte, moro atrás do hospital, o que me dá minutos extras no fim do dia. Este tempo eu uso para estudar, dormir, comer ou assistir TV. Ah, posso também, vez por outra, tomar um chope com o pessoal da anestesia...
Às 7h10 entro na Sala 4 e arrumo todo o material de anestesia para a primeira cirurgia. Checo o aparelho de anestesia, os dispositivos de segurança, o material para intubação, as drogas anestésicas. Peço aquecedores para evitar hipotermia e acabo esquecendo algumas coisas. Inevitável.
Às 7h40, tudo pronto. Celina entra na sala, dormindo. É importante que os pacientes não fiquem ansiosos antes da cirurgia e a melhor maneira de fazer isso é dando-lhes um sedativo leve. Dessa vez funcionou bem. Veia pega, monitores instalados, e a anestesia começa. Celina está deitada de lado. Introduzo uma agulha de mais ou menos 7 centímetros em suas costas. Não, ela não sente dor, pois o local foi previamente anestesiado. O cateter peridural, arma fundamental para a cirurgia, é instalado e serve para evitar dor no pós-operatório imediato. De volta à posição original (decúbito dorsal), Celina está pronta para ser induzida. A indução da anestesia geral consiste na perda da consciência e posterior intubação.
Às 10h35 o cirurgião constata que o câncer de estômago de Celina é inoperável. Inop. Ou como eles costumam dizer “Open to see, close to die”. (Há uma versão mais inteligente, que ouvi outro dia: “Open to see, close to death”). Ou ainda F.P.T.: “fora de possibilidade terapêutica”. Celina tem 35 anos, três filhos, o mais novo de um ano. A sobrevida média nestes casos é de 30% em um ano. Ou seja, 70% dos pacientes morrem antes de um ano. A cirurgia dela vai acabar mais cedo.
Às 12h30 deixo Celina no Serviço de Recuperação Pós-Anestésica (RPA), ainda um pouco sonolenta, mas sem nenhum desconforto. Graças à morfina, dada pelo cateter peridural, Celina não tem dor. Agora posso almoçar.
Às 13h40 meu chefe me apressa e estou de volta à Sala 4, sem conseguir escovar os dentes, porque há uma emergência após a cirurgia de Antônia. O ritual é o mesmo de arrumação e checagem do material. Assim como o do cateter e da intubação. O gosto de carne é disfarçado pelo chiclete de hortelã que a instrumentadora me dá. E a cirurgia começa.
Às 16h45 acordo Antônia, que me solta um ”Ai !” e aponta para a barriga. Minha analgesia está insuficiente. Nada que mais um pouco de morfina não resolvesse, mas meu chefe não deixa. Fica com medo. Acha que a dose está ideal, e que poderíamos associar outra droga menos “perigosa”. Acato a ordem, por hora, e associo uma droga que só começará a fazer efeito em uma hora. Enquanto isso, coitada de dona Antônia...

Às 18h00 aquela emergência é transferida para outra sala onde a cirurgia acabou antes. Agora eu posso ver os pacientes de amanhã.
Às 19h30 volto ao centro cirúrgico para pegar minhas coisas e rever Antônia. Ainda com dor. Mais 1 miligrama de morfina pelo cateter. Ninguém vê, mas escrevo na ficha e carimbo meu nome. No rodapé.
Às 19h50 entra um paciente sangrando pela boca, branco feito uma folha de papel. O sangue se mistura com a saliva e o conteúdo gástrico, recém expelido. Há dois anestesistas de plantão. Teoricamente, estou liberado. Mas como duas cirurgias passaram do horário, está entrando uma emergência e há pacientes potencialmente graves na RPA, não consigo ir.
Às 21h30 Dona Antonia se sente melhor, mas está sonolenta e com muita coceira, um dos efeitos colaterais da morfina. Digo a ela que, se a morfina for antagonizada, ela sentirá dor. Peço que ela escolha entre a dor e a coceira. Ela é sábia, e fica se coçando a noite toda.
Às 23h30 todos os pacientes da RPA têm alta, transferidos para as enfermarias de origem, menos dona Antônia, que achei prudente deixar dormindo sob vigilância. A emergência sangrativa acabou. Hoje é sexta-feira. Como moro no alojamento do hospital, não vejo minha família há duas semanas... No último fim de semana estava de plantão.
Às 0h03 o dia de hoje já virou o de amanhã. Encontro os familiares de Celina. Digo-lhes que pela manhã a equipe da cirurgia conversará com eles, e com ela. Eles perguntam por que a cirurgia acabou antes do previsto. Eu respondo evasivamente.
Ela tem 35 anos, três filhos e 70% de chance de morrer antes que o mais novo complete dois anos de idade. Open to see, close to death...
Quatro dias depois, com uma infecção generalizada, Celina morre.