sábado, 2 de janeiro de 2010

O discurso de Leonardo

Eu cheguei até aqui por causa dos meus pais. Acredito que boa parte dos meus queridos amigos formandos de hoje também. São nossos pais que fundamentam nosso caminho, nos dão ferramentas para lutar e nos dão o colo para descansar. São eles o início de tudo.
Lembro-me bem do primeiro dia de aula, da insegurança que sentia, do “frio na barriga” do desconhecido, do medo dos veteranos. Mas aos poucos isso passou. Eu dominei meus medos, conquistei meu lugar. Tenho certeza de que foi assim com todos aqui. O início é duro. Temos que estudar e aprender coisas que nunca ouvimos falar, estudar de uma maneira diferente e menos dependente. No fundo é isso o que acontece quando entramos na faculdade: começamos a deixar de ser dependentes. O fim da faculdade encerra um ciclo e inicia outro. Para alguns, o último. Tornamo-nos adultos.
De certa maneira, se tornar adulto é apenas mais uma dificuldade dessa estrada. Mas certamente a mais dolorosa. E é isso que nos espera em muitos momentos: dor. Dor e medo. Dor, medo e insegurança. Certamente não é só isso, mas é isso o que nos deixa abalados. O medo de errar, insegurança com o primeiro doente, a dor da primeira perda. Acontecerá com TODOS. Mas é por isso que estamos aqui hoje. Foi para isso que chegamos até aqui. Estudamos seis anos para isso. Para que a dor, o medo e a insegurança que encontraremos fiquem em seus lugares, visto que são necessários. Que a insegurança seja tolerável e nos torne humildes, que a dor seja apenas um alarme, que o medo seja o impulso para o aprimoramento.
Sejamos médicos de corpo e alma. Afinal, medicina é sim sacerdócio. É o mais próximo do sobrenatural que um homem comum pode chegar. É arte, no sentido que a palavra conota, visto fazer emocionar, trazer felicidade e vida ao homem. Portanto, sejamos bons!
Uma vez me disseram que o bom médico trazia consigo três C’s: competência, compaixão e compromisso. Eu acrescento mais um: coragem. Competência, porque é o mínimo. Compaixão, porque devemos isso à humanidade: não esqueçamos que tratamos de semelhantes. Compromisso, porque fizemos um juramento. Coragem para enfrentar os males da profissão e as armadilhas da dura vida que levaremos daqui para frente.
Espero que não falte nenhum destes C’s a nós, companheiros, e que os dias de alegria sejam inspiradores, que os de tristeza façam refletir e que tenhamos saúde, felicidade e sorte ao longo da nossa jornada aqui na Terra. Obrigado e boa noite a todos.

9 comentários:

  1. Muito mais interessante que a "obra cinematografica" de Fabio Barreto ou a tese de Denise Parana'...

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  2. Mas aí é fácil... hehehe

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  3. Tiago a qualidade dos seus textos impressiona..Voce tem o Dom de nos fazer sentir personagens ativos de seus enredos.Voce esta de Parabens!!! e deve desenvolver essa capacidade Unica , Genuina e Especial!!Continue a nos presentear com seus textos..

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  4. Leonardo é um cara sábio.

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  5. Valeu Ana, tem trocar os óculos hein! hehehe Sério, valeu pelos elogios.

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  6. Leonardo, se existisse, seria O CARA.

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  7. Nossa Tiago, mal consegui terminar de ler, e confesso sem vergonha de dizer: Chorei...
    Tocou-me profundamente.Senti cada frase , na qualidade de filha, estudante e mãe.
    Acredito que é para isso que vc escreve,ou seja, conseguir compartilhar com os outros sua emoção.
    Continue
    Bjs

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  8. Oi Tiago,
    Leonardo existe, tenho certeza. Nem que seja um pouco ,dentro de cada um de nós.

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  9. Eu gosto de ver esses 2 textos como uma coisa só. Não dá pra ver o Leonardo sem ver o pai antes. Um não existiria sem o outro.
    Fico feliz que o texto tenha te tocado, Grace. Foi quase doloroso fisicamente escrevê-lo... Mas eu gostei do resultado final.

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